Por José Sapepo
- Relendo o pensamento filosófico de Sartre manifesto na O existencialismo é um humanismo e pensando nosso mundo pós Covid-19, podemos dizer que a nossa experiência colectiva do mundo não será a mesma. Na verdade, a mesma muda a cada crise que marca a consciência e a memória comuns. Hoje nos demos conta, subitamente, da precariedade da existência. Foi preciso a Covid19 para que, mais uma vez, nos descubramos mortais.
- Como é de conhecimento de muitos “O existencialismo é um Humanismo” é um ensaio escrito pelo filósofo francês Jean Paul Sartre (1905 – 1980), derivado de uma conferência feita por ele em Paris, em 1946, para explicar sua doutrina e também defendê-la de algumas acusações.
- O mundo mudou, e aquele mundo do antes de 27 de março não existe mais, e como canta Laura Pausini, Se fue. A nossa vida vai mudar muito, daqui para a frente.
- Para Sartre, escolher isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, parece que, hoje, o mundo escolheu a existência e o humanismo. Angelique Kidjo disse n,o France 24, que o vírus da Covid-19 veio alertar-nos: se vocês não conseguem viver juntos eu vou dizimar-vos.
- A Covid-19 revela-nos uma premissa indiscutível: toda vida humana vale a pena ser salva à custa da viabilidade dos actores econômicos. A Covid19 revela o valor, mas também o preço do humanismo.
- Até agora, em Angola, nenhum partido político se opôs ao confinamento ou então ao isolamento social. A pandemia está expondo as necessidades básicas de nossas sociedades. Hoje, e como já disse no meu precedente artigo, valorizam-se todos os profissionais de saúde, não apenas médicos e especialistas, até aqui no Kilamba também já aplaudimos o serviço que têm feito. Os pais terão entendido a importância da educação escolar, a dificuldade da profissão do professor, a importância de uma formação de qualidade para eles. Felizmente, teremos entendido que os orçamentos de saúde e educação devem ser protegidos e apoiados.
- O mundo nunca será mais como antes e vemos isso, particularmente, neste momento de confinamento. É hoje que sofremos do que não temos mais, daí a ilustre expressão “eramos felizes e não sabíamos”. O confinamento nos lembra a possível violência do lar e da família e a necessidade dos espaços públicos; é só olharmos nas redes sociais mensagens e vídeos que ilustram esta realidade. O confinamento pode permitir-nos contemplar o cenário de nossas imaginações, desejos, liberdades e inventar, com a ajuda de um novo ritmo e temporalidade, as linhas de fuga.
- A Covid-19 acentuará o medo e a ansiedade das pessoas e estimular novos hábitos. Com o isolamento social, as lives explodiram, principalmente no Instagram. Mas a era de incertezas, que o filosofo Edgar Morin nos aconselha a viver com elas, aberta pela pandemia aguçou esse sentimento nas pessoas, que passam, nesse primeiro momento, a ter mais contato online com o objectivo de aprender coisas novas, se divertir e/ou se preparar para o mundo pós-pandemia.
- Da forma como nos divertimos ao modo como gastamos dinheiro, nada será como antes. Em isolamento, milhares de pessoas começaram a repensar o próprio estilo de vida.
- Com o uso das mascaras aprendemos de Sartre que o homem não é apenas restritamente responsável pela sua individualidade, mas que é responsável por todos os homens, afinal não queremos nos contaminar nem contaminar os outros. A nossa responsabilidade será maior do que poderíamos supor, porque ela envolve toda a humanidade.
- No novo mundo poderemos nos descobrir em face do outro e que o outro é tão certo para nós como nós mesmos. A vida pós-Covid-19 permitirá descobrimos que o outro é a condição da nossa existência.