segunda-feira, 4 de maio de 2020

O PREÇO DO HUMANISMO


Por José Sapepo

  1. Relendo o pensamento filosófico de Sartre manifesto na O existencialismo é um humanismo e pensando nosso mundo pós Covid-19, podemos dizer que a nossa experiência colectiva do mundo não será a mesma.  Na verdade, a mesma muda a cada crise que marca a consciência e a memória comuns. Hoje nos demos conta, subitamente, da precariedade da existência. Foi preciso a Covid19 para que, mais uma vez, nos descubramos mortais.
  2. Como é de conhecimento de muitos “O existencialismo é um Humanismo” é um ensaio escrito pelo filósofo francês Jean Paul Sartre (1905 – 1980), derivado de uma conferência feita por ele em Paris, em 1946, para explicar sua doutrina e também defendê-la de algumas acusações.
  3. O mundo mudou, e aquele mundo do antes de 27 de março não existe mais, e como canta Laura Pausini, Se fue. A nossa vida vai mudar muito, daqui para a frente.
  4. Para Sartre, escolher isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, parece que, hoje, o mundo escolheu a existência e o humanismo. Angelique Kidjo disse n,o France 24,  que o vírus da Covid-19 veio alertar-nos: se vocês não conseguem viver juntos eu vou dizimar-vos.
  5. A Covid-19 revela-nos uma premissa indiscutível: toda vida humana vale a pena ser salva à custa da viabilidade dos actores econômicos. A Covid19 revela o valor, mas também o preço do humanismo.
  6. Até agora, em Angola, nenhum partido político se opôs ao confinamento ou então ao isolamento social. A pandemia está expondo as necessidades básicas de nossas sociedades. Hoje, e como já disse no meu precedente artigo, valorizam-se todos os profissionais de saúde, não apenas médicos e especialistas, até aqui no Kilamba também já aplaudimos o serviço que têm feito. Os pais terão entendido a importância da educação escolar, a dificuldade da profissão do professor, a importância de uma formação de qualidade para eles. Felizmente, teremos entendido que os orçamentos de saúde e educação devem ser protegidos e apoiados.
  7. O mundo nunca será mais como antes e vemos isso, particularmente, neste momento de confinamento. É hoje que sofremos do que não temos mais, daí a ilustre expressão “eramos felizes e não sabíamos”. O confinamento nos lembra a possível violência do lar e da família e a necessidade dos espaços públicos; é só olharmos nas redes sociais mensagens e vídeos que ilustram esta realidade.  O confinamento pode permitir-nos contemplar o cenário de nossas imaginações, desejos, liberdades e inventar, com a ajuda de um novo ritmo e temporalidade, as linhas de fuga.
  8. A Covid-19 acentuará o medo e a ansiedade das pessoas e estimular novos hábitos. Com o isolamento social, as lives explodiram, principalmente no Instagram. Mas a era de incertezas, que o filosofo Edgar Morin nos aconselha a viver com elas, aberta pela pandemia aguçou esse sentimento nas pessoas, que passam, nesse primeiro momento, a ter mais contato online com o objectivo de aprender coisas novas, se divertir e/ou se preparar para o mundo pós-pandemia.
  9. Da forma como nos divertimos ao modo como gastamos dinheiro, nada será como antes. Em isolamento, milhares de pessoas começaram a repensar o próprio estilo de vida.
  10. Com o uso das mascaras aprendemos de Sartre que o homem não é apenas restritamente responsável pela sua individualidade, mas que é responsável por todos os homens, afinal não queremos nos contaminar nem contaminar os outros.  A nossa responsabilidade será maior do que poderíamos supor, porque ela envolve toda a humanidade.
  11. No novo mundo poderemos nos descobrir em face do outro e que o outro é tão certo para nós como nós mesmos. A vida pós-Covid-19 permitirá descobrimos que o outro é a condição da nossa existência.


segunda-feira, 30 de março de 2020


A ESPERANÇA NUNCA SE PERDE MESMO QUANDO PARECE DISTANTE.

Estes dias a realidade nos está a mostrar o que acreditamos durante anos, que somos todos iguais diante da morte ou perante a constituição, afinal não é bem assim. No primeiro caso existem formas diferentes de morrer e no segundo nem sempre somos todos iguais diante da lei.

Não é uma verdade sacrossanta, mas é uma evidência ou mesmo uma proposição categórica: Todos somos “mais” iguais perante o Covid19.
Diante desta pandemia, a jornada da vida continua a mesma, a sobrevivência. Hoje que voltamos para nós mesmos, ao nosso interior e ao interior das nossas casas, damo-nos contas quem somos. Somos todos iguais, nascemos sós e morreremos sós.

Como já disse algures, a ironia da vida e diante do Covid19 permite que diga à minha mãe a ficar em casa e ela obedece. Quem diria que a rainha da Inglaterra, o CR7, o Leomessi ou então eu, monsieur tout le monde obedeçamos à mesma ordem, a de ficar em casa.
De um tempo para cá, antes do estado de emergência, era notório o exibicionismo diante das redes sociais ou ao que o Zygmunt Bauman chamou de farmácias da vida. As pessoas expunham uma vida idealizada e não a real. Parece que ser feliz tornou-se urgência. Entre postagens constantes, na tentativa vã de eternizar momentos, caras e bocas são ensaiadas em busca de cliques, vidas compartilhadas com o desejo quase real de sentir algo, ser aceito ou simplesmente ser visto.

Tal como diz Júlia de Melo, uma curtida ali, outra aqui chega a fazer graça para o coração, que ainda sem saber que virou emoji, crê ter alcançado a dádiva do momento. Mas dura pouco, ou seja, apenas o suficiente até ver no story, no feed, no instante seguinte, outros sorrisos amarelos, em filtros disfarçados, que chamam mais atenção e são mais convincentes.

O Covi19 trouxe a possibilidade de nos tornamos nós mesmos e dizermos: Não adianta humilharmos uns, exaltando outros pelos méritos financeiros, fama, beleza e outros. Somos todos iguais tanto na chegada como na partida.
Entrámos num túnel e não sabemos onde vai dar, mas a esperança nunca se perde mesmo quando parece distante.

Estamos juntos!

José Sapepo.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

O Sentido da Vida



O SENTIDO DA VIDA

José Sapepo


A questão do sentido da vida mexe com os nossos tempos. É sem dúvida uma das razões do reavivamento da filosofia, do sucesso, do desenvolvimento pessoal e da espiritualidade. A atenção dedicada à inevitabilidade da morte parece, muitas vezes, tornar a questão do sentido da vida problemática, mas não é óbvio que a imortalidade pudesse fazer a diferença entre o sentido e a sua ausência.

Na sociedade hodierna, as pessoas vão atrás de muitos propósitos, a que Clóvis de Barros chama de “cenouras”, pensando que neles encontrarão sentido. Entre vários estão: sucesso nos negócios, prosperidade, bons relacionamentos, sexo, entretenimento, fazer o bem aos outros, etc. Mesmo depois, e em alguns casos, atingiram seus propósitos de prosperidade, relacionamentos e prazer, sentem que há ainda uma grande lacuna interior – um sentimento de vazio que nada parecia preencher.
Em um certo domingo, tivemos a infelicidade de enterrar uma sobrinha e, depois do funeral e a caminho para a casa, parei num restaurante. Por coincidência havia uma banda a animar os presentes; o ambiente estava bom e nada mal distrair os “kalundús” após um enterro.

Neste cenário, e vendo a monotonia dos presentes, apareceu alguém que disse o seguinte: Deixemos de ter caras trancadas; se estamos aqui é mesmo para animarmo-nos e dançar. Viva a vida porque a morte é uma garantia. Por causa do Facebook e do WhatsApp fazemos pouco sexo, dançamos pouco, convivemos pouco e outras coisas.
As redes sociais e, sobretudo, o Facebook e WhatsApp, criaram, em muitos de nós, parafraseando Leandro Karnal, a ilusão do Eu que nos impede ser feliz, porque tornou o nosso mundo numa sociedade confessional (eu confesso para obter gostos dos meus amigos), ou seja, confesso tudo que faço para ser feliz.
Isso leva-me a reflectir sobre o sentido que damos à nossa vida. A vida é mesmo frágil, é a chama de uma vela, como diria Shakespeare e nós perdemos tempo com futilidades.

Por outro lado, Richard Taylor afirma que a vida tem sentido se pudermos ocupar-nos de actividades que achamos serem significativas; de outro modo, não.

A maior parte das pessoas não tem ideia do que são na verdade, mas sim uma ideia acima ou abaixo do que elas são. O princípio de Sócrates, “conhece a ti mesmo”, é uma chave profissional e pessoal que pode condicionar o sentido que damos à nossa vida.

Tal como tive a oportunidade de escrever num outro artigo “O quantismo e a negação do ser”, vivemos num mundo onde a palavra de ordem é: devemos produzir, devemos correr, devemos “ter” coisas para mostrar, como se objectos definissem pessoas. Nessa busca incessante por um sem número de coisas, nas farmácias da vida, existem pessoas em lugares que não querem estar, em trabalhos que não trazem nenhuma felicidade (trabalha apenas para ter o salário, mas não gosta o que faz), em relacionamentos vazios e contentam-se, afinal, vendem-nos a ideia de que essa é uma vida feliz (felicidade liquida).

Devemos sempre ter em mente que a nossa vida é comparada à sala de embarque; tantas coisas passam por nós ao longo dela, tantas coisas vêm e vão, tantos de que não nos lembramos, tantos que não se lembram de nós. Poderíamos ter nos ocupado de menos coisas, ter ficado mais tempo com o que faz o coração enternecer, chorado quando sentíssemos vontade e coleccionado sorrisos para fortalecer a alma e, como diz Cortela, não devíamos bancarizar os afectos e conhecimentos.

Preocupante é a forma como procuramos nos adaptadar a viver dessa forma, sem questionar se essa é a melhor forma de viver e esquecemos que a vida é breve e, por ser breve, deve ser aproveitada naquilo que realmente importa. E quando sairmos da ilusão ou do sono de uma vida bem vivida, dar-nos-emos conta que os anos se passaram e perdemos a oportunidade de deixar a nossa marca no mundo, de dar um abraço e de ganhar um sorriso. Ou seja, ser importante para alguém e fazer alguém importante.

Sartre afirmou que a existência precede a essência, ou seja, primeiro sou e depois julgo ao que quero ser, mas infelizmente, por medo, preguiça ou insegurança de viver uma vida que realmente faça jus à nossa existência e àquilo que somos, deixamos de dar essência, sentido à nossa existência. 

Quando perguntamos se as nossas vidas têm sentido não estamos a fazer algo totalmente introspectivo, e quando procuramos uma forma de dar sentido às nossas vidas, não estamos à procura do comprimido da felicidade, mas sim precisamos de ter uma razão para viver enquanto a vida é agradável, e o objectivo de atingir a felicidade plena, se esta fosse atingível, já seria suficiente, à chacun son choix.






sexta-feira, 20 de março de 2015

Será que as sondagens são fiáveis?

Será que as sondagens são fiáveis?
José Sapepo

A crescente utilização de sondagens nos media trouxe, naturalmente algumas críticas, quer sobre a sua qualidade, quer sobre a forma como são publicadas, ou, ainda argumentando que estas restringiam a liberdade de formar opiniões pessoais. A questão que se coloca sempre é da fiabilidade das mesmas. Existem exemplos que nos inspiram a questionar: O referêndum escocês, em 2014, que mostravam a victória do Sim, na França em 2002, as sondagens não tinham previsto a presença de Le Pen na segunda volta das presidenciais, depois de este eliminar Lionel Jospin na primeira volta e o caso mais recente é o de Netanyahu que, supostamente, era tido como não vencedor destas últimas eleições[1]
Afinal o que é a sondagem? A sondagem consiste numa forma particular de inquérito, realizado junto de uma amostra de determinada população, cujo objetivo fundamental é o de, a partir do seu estudo, permitir extrapolar as conclusões retiradas para o universo em questão.

As primeiras sondagens surgem no início do século XX, nos EUA, orientadas fundamentalmente para o conhecimento dos mecanismos de formação de opinião dos eleitores e para a prospeção de mercados, assumindo, ainda hoje, uma importância crucial nestas áreas, embora não se limitando a elas. Utiliza-se para conhecer determinados fenómenos em grandes conjuntos populacionais e, mediante a impossibilidade prática de inquirir todas as unidades de observação componentes desses universos, a sondagem é feita com base numa amostra representativa dos mesmos. A sua vantagem principal é a possibilidade de obter conclusões para um conjunto populacional cujo conhecimento seria, de outra forma, impraticável, ao permitir a recolha de uma grande quantidade de informação estandardizada e rapidamente quantificável, mas coloca, por outro lado, problemas particulares de interpretação da informação recolhida relacionados com a própria composição e seleção da amostra, e também com as características das técnicas de investigação normalmente usadas, além de não ser uma técnica de estudo adequada a todo o tipo de variáveis.

As sondagens utilizam técnicas estatísticas para garantir que o conjunto de inquiridos (a amostra) é representativo de um grupo mais alargado (o universo alvo.
A crescente utilização de sondagens nos media trouxe, naturalmente algumas críticas, quer sobre a sua qualidade, quer sobre a forma como são publicadas, ou, ainda argumentando que estas restringiam a liberdade de formar opiniões pessoais. Relativamente às críticas sobre a menor qualidade que resultaria do acentuado crescimento na utilização de sondagens, estas são maioritariamente relativas ao papel “desinformativo” que estas poderiam ter, na medida em que pequenas alterações metodológicas na realização destas podem levar a significativos enviesamentos dos seus resultados (Miller e Hurd, 1982). Estes autores consideravam, que este problema poderia ser minorado estabelecendo-se padrões rigorosos para o exercício desta actividade. Esta constatação levou a que se criassem códigos de conduta, que pudessem garantir a qualidade das sondagens. Estes códigos que impõem regras, quer quanto às metodologias, quer quanto á publicação, são nalguns casos implementados por legislação e, noutros casos, por intermédio de associações ligadas aos estudos de opinião,

A seleção das pessoas que participam nas sondagens não é feita de modo arbitrário, deve respeitar métodos estatísticos cientificamente validados. Quando for impossível auscultar todos os elementos de um grupo que se pretende estudar (o universo alvo, por exemplo), as sondagens baseiam-se em amostras. A construção das amostras difere de empresa para empresa. É a forma como estas aplicam e combinam as diferentes técnicas estatísticas que as distingue e caracteriza.

Existe uma regra importante : não se pode estimar que uma sondagem é verdadeira a 100%. Em geral existe o que se chama de margem de Erro ou seja de 2 a 3% em relação ao número fornecido. Se os resultados de uma sondagem dão 51% de intenções de voto a favor de um candidato, podemos afirmar que existe uma probabilidade de 0,95 que o valor real seja de 48% e 54%. Na prática as coisas não são bem assim, conforme lembra o teorema de Bayes (mostra a relação entre uma probabilidade condicional e a sua inversa; por exemplo, a probabilidade de uma hipótese dada a observação de uma evidência e a probabilidade da evidência dada pela hipótese. Esse teorema representa uma das primeiras tentativas de modelar de forma matemática a inferência estatística).           

A fiabilidade dos seus resultados reside, assim, em boa parte, na forma como tal amostra é construída, mas também na forma como o instrumento de recolha de dados, geralmente o questionário ou, em alguns casos, a entrevista directa, são também construídos.
As sondagens de opinião não podem realmente ser consideradas como fiáveis, e também, influenciam a opinião pública, são utilizada excessivamente porque estão ancoradas no sistema mediático-politico e tornaram-se incontornáveis.
Assim sendo, temos de ver nas sondagens uma tendência e não resultados exactos.




[1] in Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-03-18 10:04:59]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/$sondagem-(estatistica)?uri=lingua-portuguesa/estatística

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O Quantismo e a negação de valores



O Quantismo e a negação de valores
José Sapepo

Hoje a felicidade está cada vez mais associada ao consumo excessivo para justificar os motivos da existência humana, o que leva a sociedade a adoptar padrões de exclusão valorizando o ''Quanto'' ou o “Ter” e não o “Ser”.

Vivemos num mundo de consumo onde o modo de produção, reprodução material e espiritual expande e transforma o consumo de mercadorias no principal factor das relações e das práticas sociais. Tal como a Ilha de Ogígia, na mitologia grega, hoje a sociedade consumo propícia uma fauna e uma flora de objetos e prazeres inimagináveis, mas também produz o esquecimento e a alienação sobre nossas próprias vidas.

O que se evidencia hoje em nossa sociedade, é  que os homens não se encontram mais  rodeados por outros homens, mas por objetos.
Baudrillard   em seu livro “Sociedade do Consumo” citado por Michel Aires de Souza,  mostra-nos que o conjunto das relações sociais já não é tanto com seus semelhantes, mas com as coisas. Segundo ele, “vivemos o tempo dos objetos (…) O computador, o tablet, o smartphone, a televisão, o eletrodoméstico só reforçam cada vez mais o  individualismo e a solidão dos indivíduos, existimos segundo o seu ritmo e em conformidade com a sua sucessão permanente”. Para continuar no mesmo paradigma, digo que vivemos a época do “Quantismo”, quanto dinheiro, quantos carros, quantas casas, quanto………? 
Os objetos invadem, conquistam e colonizam a nossa vida espiritual. Mas que espiritualidade pode ajudar-nos a sair deste marasmo onde há superioridade das coisas em detrimento dos homens? Hoje   as relações humanas se coisificaram, banindo as relações afetivas.
Por muito tempo, a espiritualidade permaneceu prisioneira da religião. Na verdade, é errado equiparar a espiritualidade e religião, apesar da mesma incorporar alguns elementos da última, elas se afastam em muitos outros aspectos. 

Não vou dar uma definição da religião, porque não há uma valida para todas, porque seria mais uma definição. Hoje, penso que, a espiritualidade que pode ajudar o homem é aquela considerada como um estado de ser, que não pode ser bloqueada ou doutrinada, enclausurada em um templo. A espiritualidade é como a verdade, é imperfectível para o ego humano. Falo aqui da espiritualidade Laica, diferente da espiritualidade religiosa baseada num conjunto de dogmas, práticas e valores que existem e atuam sobre os indivíduos, independentemente de sua vontade ou de sua adesão consciente.

Se apoiarmos-nos na espiritualidade laica, como diz Dalai Lama, baseada em valores como o amor e a compaixão, assim o “quanto” não terá tanta importância porque nos compadecemos com outro. Esta espiritualidade antecede qualquer religião ou ideologia. Não pertence à religião ou ao ateísmo mas pertence a qualquer ser que “sente” a nível orgânico ou inorgânico. Para Guaraci Fagundes, aceitação desta espiritualidade implica a não interferência nos processos naturais da vida, implica no acompanhar consciente dos processos de crescimento que a vida manifesta.

Actualmente o consumo e o ter tornam-se a purificação da alma através da identificação com o objeto: Tenho o IPhone sou alguém conectado, tenho um caro de luxo sou rico, tenho uma bela e grande casa sou o “Pai Grande”. 
A compra de um bem considerado importante pelo grupo social ao qual o indivíduo pertence, produz uma imediata sensação de prazer e realização, e normalmente dá status e reconhecimento a seu proprietário. Entretanto, essa satisfação é rápida, e à medida que o objecto de desejo deixa de ser novidade, retorna a sensação de vazio interior. Isso gera um círculo vicioso, pois o consumidor continuará buscando a prometida felicidade, e irá em busca da próxima compra (porque tem meios), na esperança de que a satisfação seja mais duradoura e mais significativa.

Hoje o quantismo e o consumismo tornaram-se quase uma religião. A catarse do consumo e do ter é equivalente a catarse religiosa, porque em ambas observamos uma grande quantidade de descarga emocional, o indivíduo chora, ri, se deslumbra, sente alegria, êxtase, contentamento.
Um alto padrão de consumo é buscado a qualquer custo, em detrimento de valores como as relações humanas, o caráter, a integridade, e a preservação do meio ambiente.
Uma sociedade cujos princípios são a aquisição, o lucro e a propriedade, produz um caráter social orientado para o ter (o quanto). Como consequência desta atitude preponderante de egoísmo, os dirigentes das nossas sociedades acreditam que as pessoas podem ser motivadas apenas pelo incentivo de vantagens materiais.

Em função de tudo que acabamos de dizer uma pergunta torna-se fundamental a ser posta: o que será dos valores como o amor, a amizade, o respeito que não são quantificados?

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Debates televisivos na campanha eleitoral, porque não em Angola?

Debates televisivos na campanha eleitoral, porque não em Angola?

José Sapepo
Nas vésperas de eleições presidenciais nos países de democracia consolidada, é quase notório assistir na televisão debates entre os candidatos; os últimos que me lembro e porque acompanhei com assiduidade, foram os debates para  eleição presidencial em França. Em Angola e em alguns países africanos os mesmos debates televisivos são inexistentes. Será que são importantes? Porque que em Angola não temos esta cultura? Será que os debates são uma forma de expor propostas ou somente servem para demonstrar a eloquência do candidato?
Os debates políticos televisivos servem de espaços estratégicos de visibilidade política que graças a estética televisiva, torna-se num lugar de busca da credibilidade junto do eleitor, e assim apresentam-se como elementos importantes da disputa eleitoral em uma eleição, sobretudo presidencial.
Hoje, a política mudou e alguns países aceitaram esta realidade com naturalidade, outros, continuam ainda com a velha estratégia. Dos poucos debates que tivemos a oportunidade de assistir na televisão, muitos deles foram na Tv Zimbo,  apesar de não estarem numa estratégia de eleição presidencial, eram ricos na sua abordagem. Lembramos os debates entre Paulo Ganga e Norberto Garcia ou então de Abel Chivukuvuku e Rui Araújo.
Como é do conhecimento, o debate político televisivo, apesar de ser um evento de curta duração, envolve um complexo processo de preparação técnica (e aqui pensamos que a TPA ou mesmo a TV Zimbo estão em condições de os organizar) e investimento por parte dos promotores. Para os eleitores, é um momento único para observar os candidatos no confronto directo porque representa uma importante fonte de informação.
Os debates políticos televisivos têm algumas vantagens: Permitem ver aos candidatos a confrontarem-se; ouvir as ideias de cada um; avaliar a sua solidez diante dos conflitos etc. E principalmente, conhecer mais um pouco o candidato. Nos debates televisivos as fraquezas e limitações ficam mais evidentes e difíceis de serem simuladas, porque é difícil esconder os traços da personalidade que são disfarçados ou omitidos em outras situações.

Para estas eleições de 2012, seria bom para a própria democracia, que houvesse debates entre os cabeças de lista, e que fossem eles a apresentar e defender os seus programas de governação.

Sendo a televisão uns dos principais cenário em que se constrói o vínculo entre o cidadão e os seus representantes,  se consideramos que estamos no marco de uma democracia audiovisual, seria importante que estes pudessem servir o cidadão prestando este serviço de criar debates políticos.